segunda-feira, 14 de maio de 2012

só garotos




Amigo é um negócio importante. Fazer um filme sobre amizade, entre amigos, é um negócio sublime.
Tenho vivido em absoluta suspensão. Não tenho mais casa, meu gato não pode ficar comigo, não tenho mais namorado, não tenho uma garagem. Tenho um carro amassado e um filme para fazer. Tenho uma mãe que me abriga provisóriamente. Espero. E uma amiga que me empresta a garagem. Tenho projetos, vontade de concretizá-los, preguiça de produzí-los e um saldo bancário a beira da catatonia. Tenho minhas orelhas, meus pés, a vida: como diz aquela música que a Nina Simone canta e faz meu coração disparar quando escuto. De modo que enquanto não sei o que irá acontecer, tenho gostado de viver assim, quase no espírito cigano vindo do deserto do rajastão e a ideia de pertencer a uma trupe mambembe de teatro saída de um filme de Bergman. A verdade, é que tudo está em suspensão. O que acontece é que às vezes nossa percepção em relação a isso fica mais aguda. E isso pode ser libertador. E eu prometo solenemente manter-me fiél a isso, mesmo estando empregada, contratada, casada, cronogramada, com filhos, com milhões de compromissos, com uma casa cheia de garagens para gerenciar. Eu prometo manter meu coração, meus desejos e meus dias em leve suspensão, ainda que eles pareçam enraizados na terra mais próxima a mim.