Eu sei do que estou falando, eu já passei por isso, várias vezes. Já fiz todas as dietas do mundo, já passei três dias tomando a sopa do Vigilantes do Peso, bati o recorde de colesterol na dieta do Dr. Atkins, tentei enganar meu apetite fingindo que era de batata o purê de couve-flor da dieta de South Beach, decorei a tabela de pontos, conheci todas as marcas de shakes e não foram poucos os finais de semana que passei me alimentando de cevada. Acredite, também já saltitei frente à tv com os vídeos de ginástica da Cindy Crawford em meados dos anos 90. Tudo isso funciona, mas há muito não passo por isso. A coisa chegou num ponto honesto em minha vida, o peso, medidas, espelho. Sei que outro dia fui fazer uma prova de roupa para um longa e a calça não entrou. A menina nada gentil do figurino ficou olhando para minha cara como quem diz "
Você deveria ter passado suas medidas certas" e eu fiquei encarando ela como quem diz "
Querida, não sei do que você está falando, sempre vesti esse número..." Não sei se por causa do assalto ou por conta de um homem que vem repetidamente me dizendo o quanto sou linda, o fato é que pareço ter engordado. E isso é um saco. Fatalmente comecei um regime e começar um regime significa pensar mais em comida do que se pensa normalmente, significa folhear com mau-humor os guias quando se passa pela parte de gastronomia, analisar descaradamente o prato de pessoas magras e voltar do mercado com sacolas de tofu, cogumelo e iogurtes cheios de aspartame. A vida é mesmo um castelinho de cartas, você ajeita de um lado e quando vê, o outro está prestes a desmoronar. Outro dia vi um documentário sobre o Chico Buarque, e em determinado momento o Tom Jobim dizia algo como "'é difícil administrar a vida, eu sou meu próprio síndico, tenho um monte de coisas para cuidar...". Claro que ele disse isso de forma mais poética, mas eu não tenho capacidade agora de repetir, só sei que por aqui, além de síndica, tenho exercido outras funções como as de zeladora, porteira, faxineira, contadora, agente e adestradora de animais, como a maioria, na verdade. Não é uma queixa, só constatação. Quando eu era criança, meus pais me diziam que eu deveria aproveitar enquanto podia, que a vida adulta seria bem mais difícil. Nunca concordei com eles, sempre achei a infância e adolescência bem mais cruéis que a fase adulta. E continuo achando. Mas às vezes me pego com saudade dos tempos em que eu não sabia o valor do condomínio ou das calorias de uma bolacha Bono. Espero que a correria dos próximos dias me ajude na empreitada: esta semana vou para Londrina fazer Ana C. e dia dois de outubro estreiamos Brutal. E vou ajeitando meu castelinho, andando de um lado para o outro com meus textos, tamancos e saindo do regime uma vez por dia. E só para reparar o exagero textual, nunca fiz a dieta do Dr. Atkins. Isso é coisa para meninos.
(e só para ninguém achar que sou uma moça muito acima do peso, aí vai uma foto bem bonita)