segunda-feira, 28 de setembro de 2009

pelas ruas de Londrina


A gente estava procurando uma sorveteria, café, algo assim. Mas não havia nada na avenida que saía do hotel. Passamos por lojas de pneus, estações de tratamento de água, gráficas, escritórios e quando achávamos que se tratava de um passeio perdido, eu vi isso no chão. Voltei, parei, olhei e chamei a turma. Não tivemos dúvida, nos jogamos no asfalto na mesma hora. Quem cliquou a foto foi o Edinho e a companheira ao lado todos sabem quem é: Fernanda D'umbra. Agora resta saber quem foi. Foi você Chacal?

domingo, 20 de setembro de 2009

mind the gap

Eu sei do que estou falando, eu já passei por isso, várias vezes. Já fiz todas as dietas do mundo, já passei três dias tomando a sopa do Vigilantes do Peso, bati o recorde de colesterol na dieta do Dr. Atkins, tentei enganar meu apetite fingindo que era de batata o purê de couve-flor da dieta de South Beach, decorei a tabela de pontos, conheci todas as marcas de shakes e não foram poucos os finais de semana que passei me alimentando de cevada. Acredite, também já saltitei frente à tv com os vídeos de ginástica da Cindy Crawford em meados dos anos 90. Tudo isso funciona, mas há muito não passo por isso. A coisa chegou num ponto honesto em minha vida, o peso, medidas, espelho. Sei que outro dia fui fazer uma prova de roupa para um longa e a calça não entrou. A menina nada gentil do figurino ficou olhando para minha cara como quem diz "Você deveria ter passado suas medidas certas" e eu fiquei encarando ela como quem diz "Querida, não sei do que você está falando, sempre vesti esse número..." Não sei se por causa do assalto ou por conta de um homem que vem repetidamente me dizendo o quanto sou linda, o fato é que pareço ter engordado. E isso é um saco. Fatalmente comecei um regime e começar um regime significa pensar mais em comida do que se pensa normalmente, significa folhear com mau-humor os guias quando se passa pela parte de gastronomia, analisar descaradamente o prato de pessoas magras e voltar do mercado com sacolas de tofu, cogumelo e iogurtes cheios de aspartame. A vida é mesmo um castelinho de cartas, você ajeita de um lado e quando vê, o outro está prestes a desmoronar. Outro dia vi um documentário sobre o Chico Buarque, e em determinado momento o Tom Jobim dizia algo como "'é difícil administrar a vida, eu sou meu próprio síndico, tenho um monte de coisas para cuidar...". Claro que ele disse isso de forma mais poética, mas eu não tenho capacidade agora de repetir, só sei que por aqui, além de síndica, tenho exercido outras funções como as de zeladora, porteira, faxineira, contadora, agente e adestradora de animais, como a maioria, na verdade. Não é uma queixa, só constatação. Quando eu era criança, meus pais me diziam que eu deveria aproveitar enquanto podia, que a vida adulta seria bem mais difícil. Nunca concordei com eles, sempre achei a infância e adolescência bem mais cruéis que a fase adulta. E continuo achando. Mas às vezes me pego com saudade dos tempos em que eu não sabia o valor do condomínio ou das calorias de uma bolacha Bono. Espero que a correria dos próximos dias me ajude na empreitada: esta semana vou para Londrina fazer Ana C. e dia dois de outubro estreiamos Brutal. E vou ajeitando meu castelinho, andando de um lado para o outro com meus textos, tamancos e saindo do regime uma vez por dia. E só para reparar o exagero textual, nunca fiz a dieta do Dr. Atkins. Isso é coisa para meninos.


(e só para ninguém achar que sou uma moça muito acima do peso, aí vai uma foto bem bonita)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

valeu!

Você provavelmente pensaria a mesma coisa que eu se chegasse em casa as quatro da manhã e visse duas viaturas te esperando. Ai meu Deus o que foi que eu fiz? Tinham achado meu carro, então eu e minhas duas pernas ligamos para o seguro e fomos correndo para o local, de mini-saia mesmo. Tomamos um chá de espera da perícia durante três horas e meia e quando finalmente abriram o carro já era de manhã. Não deixaram nada dona, só isso aqui. O moço em cima do guincho tinha dois livros na mão, "Pornopopéia" do Reinaldão e o último do Chico Buarque. Arrancaram as calotas, recolheram parcimoniosamente cada cacareco que lá havia e até o lixo levaram. Mas deixaram os livros. Imagino a cena: pegaram os volumes na mão, passaram os olhos na capa e resolveram se poupar do peso extra.

Oito da manhã, um mau-humor do cão, frio nas canelas e a cara do policiais de não tô nem aí contigo, mas eu não pude deixar de formular uma frase infame com aqueles dois títulos sobreviventes: fim da epopeia, nem adianta chorar pelo leite derramado.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Hoje é seu dia de sorte, colocaram o dedo por engano na sua testa e te designaram uma grande missão. Não, não foi por engano, é com você mesmo a parada. Então, põe na sua cabeça uma coisa, você não vai lembrar de cor das coisas que te roubaram, você vai ter que começar de novo e isso nem é tão ruim vai, não há males que vem para o bem? Veja bem, talvez seja esse o caso. Agora você vai lá, põe o jeans, desce as escadas e quando chegar na padaria pede para o moço do balcão um café com leite desnatado. Se não tiver desnatado pergunta se tem em pó e se não tiver em pó, você toma puro mesmo, só com a espuma do leite. Escuta, aproveita que você tá sem fome e fica sem comer por uns dias, vai ser bom para você, jejum espiritual. Se te perguntarem alguma coisa que você não souber responder, não se aflija a toa, não há pergunta que não possa ser respondida se bem escutada. Eles vão gostar de você assim, diz não sei, ou é uma nova fase, sabe? Eles vão ficar curiosos, vão querer saber, você vai até achar que é um grande trunfo tudo isso aqui. E de fato é. Conta para eles que quer ter um filho, sei lá, que foi você que quebrou o vaso chinês com arroz tibetano, o arroz que o Dalai Lama abençoou. Mas isso também não importa mais, tem tanta coisa quebrada por aqui. Lembra do delegado te dizendo, calma moça, calma, depois você vai reescrever tudo, e muito melhor e aí vai ser um best-seller, pode crer, um best-seller. Você vai até agradecer o sujeito de cabelo carapinha...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

nada menos do que isso

coisas que se lê em época de ensaio:

"Laurence Olivier, em seus melhores dias, é o que todo mundo sempre quis dizer com a expressão "uma grande ator". Ele tem todas as cartas na mão e, na representação teatral, as figuras do baralho consistem de (a) relaxamento físico completo,(b) magnetismo físico poderoso, (c) olhos dominadores que sejam visíveis no fundo da galeria, (d) uma voz dominante que seja audível sem esforço no fundo da galeria, (e) timming soberbo, que inclua a capacidade de dar musicalidade aos versos, (f), chutzpah -a intraduzível palavra hebraica que significa uma combinação de nervos frios e atrevimento ultrajante-, e (g) a capacidade de comunicar um sentimento de perigo. São todos atributos vitais, embora a ordem de importância possa variar (o próprio Olivier considera que seus olhos são seu maior trunfo), mas o último é, sem dúvida, o mais raro. Observando-se Olivier, sente-se que, a qualquer momento, ele é capaz de fazer alguma coisa totalmente imprevisível, algo explosivo,possivelmente apocalíptico, enervante em sua nudez emocional: a pata do leão pode agredir. Não há nada de brando nesse homem."

Kenneth Tynam em "A vida como performance"