terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Pela Colômbia

Vista de Bogotá.


Noite em Cartagena.
BOGOTÁ

Os Colombianos são doces, sobretudo. E é estranho chegar num país onde as pessoas são doces com você, por livre espontânea vontade. Tudo que você pede ou pergunta é atendido com frases do tipo "Com mucho gusto" ou "A la orden" e por aí vai. Meu namorado disse que adoraria que eu respondesse a seus pedidos com frases do tipo. Prometi tentar.

Bogotá é uma espécie de Rio de Janeiro, a qualquer momento seus olhos podem se deparar com uma linda e imponente montanha. Mas ao contrário do Rio, é fria e chuvosa, como São Paulo, o que num primeiro momento confundiu os paradigmas visuais do meu cérebro viciado.

Em Bogotá comemos bem, tomamos chá de Coca por causa do mal estar que sentimos pela altura e tivemos uma carteira batida. Ah sim, em terra de gente gentil também existe ladrão, e lá eles são tão rápidos e eficientes, que se você ousar tirar os olhos de seus pertences por meio segundo, é imediatamente repreendido por algum passante. Ainda que bem informados, tivemos esta baixa.

O doce mais popular, o Arequipe, nosso doce de leite, é um desbunde entre os lábios. Encontramos um bom ceviche por esquina e os famosos patacones, "biscoitos" salgados feitos com banana da terra frita. Há muito que se ver em Bogotá, o Museu do Ouro, a deslumbrante coleção pessoal que Botero doou para o Museu que leva seu nome, entre outros.

Eu, só para variar, fiz a mala errada. Como íamos para Cartagena em seguida, levei todas as minhas roupas tropicais e mais adequadas ao clima caribenho que encontrei no armário. É como se tivesse feito uma mala para Olinda e viajasse para Curitiba. Cheguei numa Bogotá que media 12 graus com sandálias na bolsa. Mais uma vez, fatalmente, tive que gastar parte do orçamento da viagem num casaco.

CARTAGENA

No meio do caminho tinha um tucano,


e um nú em praça pública.



E finalmente, dois dias antes do ano novo, fomos a Cartagena, onde pude enfim, fazer uso da pouca roupa. Mas mais uma vez eu estava enganada. Fui para a Colômbia, por que as milhas da Tam podiam me levar até lá, mas também por que queria muito fugir da aflição do ano novo. Da busca da festa perfeita, dos rituais milagrosos e do vestido branco mais lindo do mundo. Pois é, eu queria um reveillon distante, quase místico, num país andino, cercada de guaiabeiras, tequila e artesanato. Acontece que Cartagena, junto com Punta e Trancoso, é um dos Points mais badalados do verão! E mal havia chegado, já estava eu, desavisadamente, tentando conseguir o convite para a festa perfeita, que intimamente costumo chamar de festa de Campari. Aquela festa com mulheres lindas e esvoaçantes na beira da piscina, drinks coloridos e homens de maxilar quadrados e sorrisos colgate. A festa de Campari em Cartagena. Ainda que contra minha vontade, eu procurava meios de achar um convite, comprar um vestido novo e quase sem perceber escorregava pela vala da aflicão do ano novo.

Em Cartagena comi muitos camarões, lagostas e peixes de todos os calibres. Só que para meu desapontamento em nenhum lugar do país consegui achar meu Kir Royal. Meu único ópio e drink predileto. Em São Paulo encontra-se Kir Royal em quase todos os lugares, e ele custa, em média, entre 14 e 25 reais. O único Kir que encontrei na Colômbia custava 60 reais a taça. Não tive coragem de pedir.

Cartagena é uma cidade murada quase a beira mar. Dá para imaginar a beleza do quadro? Desafortunadamente nosso hotel, apesar de ter muitas estrelas, ficava num bairro fora das muralhas, numa especie de Boissucanga longe de Paraty. Nada trágico, quase ninguém consegue ficar hospedado na cidade histórica, além do mais os taxis são uma pechincha e você pode se locomover para qualquer lugar a preço de um bilhete de ida e volta do metrô paulistano. Graças a Deus, pois Cartagena, como qualquer cidade turística, não é barata. Eu percebi isso assim que desembarquei, quando não me deixaram pegar o carrinho para levar as malas pelo aeroporto, sem que pagássemos o carregador. Tive comprovada minha teoria quando um sujeito, as quatro da manhã do dia primeiro de janeiro, quis nos cobrar o uso de seu isqueiro que pedimos emprestado para ascender as velas da barca improvisada para Iemanjá.

Não fui a festa jet set campari de Cartagena, mas comi uma deliciosa paella e passei a meia noite nos terraços de uma casa estonteante no centro histórico da cidade na companhia de pessoas adoráveis. E pedi paz. Eu que sempre achei cafona pedir paz no ano novo, que sempre pedi tormentas,trabalhos, paixões e excessos, desta vez pedi paz. Descobri, a tempo, que não há uma sequer maravilha externa que possa ser desfrutada quando há uma tormenta interna. Paz de espírito para uma vida agitada.

Em Cartagena fiz bons amigos, andei, bebi, mergulhei no mar azul-giz-de-cera do Caribe e comecei a malhar. Eu sou a única pessoa que sai de férias e começa, surpreendentemente e disciplinadamente, a malhar na academia dos hotéis.




BOGOTÁ
De volta a garoa de Bogotá conhecemos a catedral do Sal, dentro de uma mina, estranhíssima, cheia de enxofre, símbolos e estalictites salgados. Uma catedral feita para os mineiros e prevista para durar dois séculos. Fascinante. Azar o meu ter ido de saltos, pois achei que chegaria numa igreja, sentaria na terceira fileira para rezar uma ave-maria e fazer um pedido. Só que a visita da Catedral consistia em quase dois quilômetros de caminhada.

Vimos uma esposcão do Man Ray e cometemos as últimas loucuras com o cartão de crédito nos restaurantes da cidade antes de ir embora. O bom da Colômbia é que você pode dividir qualquer conta, inclusive as de restaurante em até 36 vezes. "Por supuesto", eles respondem, se você pedir para dividir seu capuccino em treze vezes!

Na última noite descubro finalmente um lugar que serve Kir Royal por apenas 12 reais. Sempre assim, as melhores coisas a gente descobre no último minuto. Faço as malas assistindo um show do The police na televisão do hotel ,da época que eles eram universitários. Por um instante me sinto antiga em pleno século vinte e um. Penso que a altura da cidade pode ter me deixado mais vulmerável. Vamos para aeroporto.

Voamos de Tam, que apesar de tocar axé no início e fim dos vôos, estava mais pontual e confiável que a Aerolíneas Argentinas, que na última viagem nos fez passar quase dois dias de espera em aeroportos e tinha um piloto que, tenho certeza, charmosa e descaradamente fumou uns três cigarros entre Buenos Aires e São Paulo.

Viva a América Latina. Feliz ano novo.

Catedral de Sal.

Botero é erótico

Amigos bons.
Um Helado para os dias quentes.


Uma barca para Iemanjá.




Brisa Caribenha.




Quase napoleônica- uma lhama chamada Mateo.
Pausa para o café.