quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

to be, or not

Admiro as pessoas que tem facilidade para existir. Para ser, estar. Às vezes olho uma pessoa na rua e sei que ela existe. Olho para ela com o mesmo prazer que olho para o mar agitado, assisto um bom filme ou uma onça correndo em câmera lenta no discovery channel.

Achei engraçado quando aprendi no colégio que a conjugação do verbo to be, equivalia a ser, estar. Achava estranho duas palavras tão diferentes significarem a mesma coisa, pertencerem a mesma natureza. Hoje entendo a ligação entre esses dois verbos. E conheço a minha facilidade em ser e a minha dificuldade em estar. E assim sendo, percebo que a minha dificuldade em estar, prejudica minha facilidade de ser. E quase sinto que uma coisa anula a outra, não fosse enorme minha vontade de fazer coisas interessantes por aqui.

Mas sempre acho que faço pouco. Embora eu ache que é preciso fazer aos poucos para fazer bem. O que também não é uma verdade. Moro na cidade e amo a cidade. O pó do minhocão invade minha casa e veste minha coleção de bonecas russas diariamente. Detesto a cidade, mas amo os hamburgueres que que fazem por lá. E os artistas que rondam por ela.

Agora estou na praia, no meio da natureza selvagem e pavões que circulam pelo terreno. Sinto que nunca deveria ter estado longe daqui, onde as coisas mais elementares como água , terra e ar parecem as únicas necessárias. Bem, até a página dois. Onde está todo o resto? as benesses da civilização? As exposições, que mesmo que não as visitemos, sabemos que estão por lá. Os cinemas? Os amigos. Os bares.

Sou fanática por massagens, completamente devota. Mas a partir do momento em que entro em alguma sessão começo a rugir internamente: "Aposto que ela não vai massagear a última vértebra da cervical."

E quando as mãos do massagista alcançam tal objetivo, ralho internamente: "o nariz, o nariz ele vai esquecer..." e por aí vou, investindo meus tostões em sessões de relaxamento para sair mais ansiosa do que entrei.

Eu gostaria de ficar quieta por um instante, sem imaginar qualquer coisa ou ansiar por algo.

Sim, isso acontece, cada vez mais, e fico feliz por atingir esses pequenos nirvanas em vida. Mas ao mesmo tempo em que isso acontece com mais frequência, os momentos em que isso não acontece, são cada vez mais difíceis. Talvez por que eu já saiba da inutilidade de todo o resto, não ser ou não estar tornou-se para mim insuportável.

É como na arte,: estar em cena e internamente estar em outro lugar que não seja ali, faz de nós, atores, canastrões, falsos, autômatos. E assim é na vida. Odeio me sentir canastrona no dia a dia. Não gosto da sensação de perder o minuto, o instante.

Termino este estranho ano com dúvidas, incertezas, conflitos. Mas com a certeza de que tudo o que eu quero e o que me conforta, é ser e estar ao mesmo tempo. E já que estamos no parágrafo sobre as promessas para 2012, também quero abdicar de ter qualquer poder sobre as pessoas que amo. Elas que façam o que for melhor para elas. Por que raios afinal, eu quero que elas ajam de acordo com a minha vontade? Que tipo de imperador fui eu em outra encarnação para ter tanta vontade de reger a vida alheia?

Budismo demais para um texto só? Talvez, mas é uma proeza que pretendo dominar. Claro, alguma coisa tenho que dominar, e já que que sou uma moça grandinha o suficiente para saber que não devo fazer isso com os outros, que seja comigo mesma.

Sei que todo os resto virá. Ou por aqui está.

Um ano novo em folha para todos nós, com cheiro de estofado de couro de automóvel recém comprado. Ou de lavanda, bourbon, café. O que você preferir.