quarta-feira, 29 de julho de 2009

RÉPLICA

diálogo entre eu e meu amigo Marcelo, lá do ABC,sobre o texto do post abaixo, transcrito da forma mais fiel que me foi possível...

Ele - Legal seu texto sobre sua geração..
Eu- É? Pô, valeu!
Ele- Embora não seja muito condizente com a minha realidade.
Eu- Como assim?
Ele- Essas coisas de amor são diferentes em cada classe social.
Eu- Será?
Ele- Martha quando você tá no inferno, você tem outras preocupações e qualquer arremedo de amor vale.
Eu- Muita terapia por aqui?
Ele- É.
Eu- Para mim no amor todo mundo é igual.
Ele- Mas não é. Quando você tá fudido as coisas são outras...
Eu- É, mas na horizontal, isso conta tanto?
Ele- Na horizontal, se você vier pra quebrada, você se realiza.

Eu vou continuar discordando dele, e ele de mim. E é assim mesmo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

MINHA GERAÇÃO

Minha geração sofre por amor. Minha geração senta na mesa do bar e fala mal do amor. Minha geração diz que o outro tem medo de amar, reclama porque o outro não se entrega e foge do vínculo amoroso. Minha geração não conhece o que é intimidade, e se tem a oportunidade de conhecer, sai correndo na primeira deixa dizendo solenemente: “Mas também, não era para ser...”. Minha geração é estudada, conectada, informada, não dá ponto sem nó, nem se enrosca a toa. Ela se orgulha das vitórias individuais e da luta contra a osmose amorosa. Minha geração é tão independente e emancipada, que descarta qualquer possibilidade de atrasar um minuto de sua vida por conta do outro. Mas a minha geração é o que tenho e o lugar que tento honesta e arduamente fazer parte, porque afinal, eu também pertenço à minha geração e assim não poderia deixar de ser. Sim, eu pertenço à minha geração, embora cometa gafes dantescas que pessoas da minha geração não costumam cometer. Mas a minha geração me dá um desconto, porque também a exceção, faz o charme da regra. Faz parte da minha geração falar mal de si mesma e incitar um saudosismo falso, inútil, mas muito útil como consolo. Nós que dissecamos a nós mesmos e nossas próprias formas de nos relacionarmos. Nós que como eu, falamos mal de nossa geração, por pura inveja dos que em nossa geração, sobrevivem harmoniosamente. Nossa geração sofre por amor, vinte e nove vezes ao ano, mas nossa geração não costuma amar, porque os terrenos onde semeamos, estão praticamente estéreis. É, minha geração sofre mais por amor, do que ama de fato. Ela insiste nessa ideia inventada por alguma outra geração muito anterior a ela ou talvez por Deus, vai saber. E eu tenho orgulho de que ela seja assim, porque minha geração sofre por algo que mal conhece e ainda assim, insiste em tentar conhecer.



http://snoreandguzzle.com/?p=53
( e este é um link, que vai dar num lugar, onde pode-se ouvir "India Song", música que dá nome ao filme de Marguerite Duras que assisti semana passada. Um filme belo, chato e entorpecente. Em dado momento o personagem diz: "Quando ouço esta música, tenho vontade de amar". A mim também deu vontade,veja aí se te inspira ...)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

quinta-feira

Eu já sei. Segunda -feira vem a faxineira e põe a casa no lugar. Passa cândida no banheiro, guarda as roupas nas gavetas erradas e quebra alguma coisa. Sempre. Eu então passo a semana toda tentando manter a ordem no recinto, espanando a poeira, escondendo a louça suja das visitas e correndo atrás do gato. Por volta da quinta-feira eu desisto e a casa volta a ser um bordel.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

UM POST ÀS CEGAS

Dorina de Gouvêa Nowill

Foi engraçado porque era um jantar às escuras e quando a moça colocou a venda nos meus olhos e sugeriu que eu comesse tudo com a mão, juro que quase me arrependi de ter pago para estar lá. Mas ali no escuro, algumas coisas ficaram claras para mim. Os sentidos ficam mais aguçados, sim, quando não se tem acesso a visão. A comida tem mais gosto quando pega com as mãos, e a gente tem uma necessidade muito menor de falar quando não enxerga. A gente fala mais do que precisa, essa é a verdade. Eu, pelo menos, tive vontade de ficar quieta atrás da minha venda, e quando falei, era tão estranho conversar privada de um dos meus sentidos, que minha fala acabou despida de maiores acabamentos. Explico, quem estava do meu lado era minha mãe, e aquela venda nos olhos me deixou de tal forma “bêbada” e desinibida, que acabei falando um monte de bobagens que nunca teria dito se ela estivesse olhando para minha cara, como faz normalmente. Depois de um tempo você acaba se acostumando à escuridão, adquire uma nova noção de espaço e percebe que o mundo é ruidoso em seu desenrolar. Eu descobri que odeio jaca, pelo cheiro, e que uma voz quando é irritante, passa a ser insuportável se você não tem olhos para dividir os esforços com os ouvidos.

Dia seguinte fui correndo contar a aventura para minha avó Dorina, cega há mais de setenta anos e para quem não sabe, fundadora da primeira fundação para cegos no Brasil em 1946. Mas antes que eu pudesse terminar a frase, ela me interrompeu de um jeito honesto, e sem um pingo de tristeza na voz. “Sabe Martha, do que eu chamo tudo isso? Uma grande bobagem, uma baboseira sem fim. Vocês vão lá, jantam no escuro e voltam dizendo que agora entendem o que é ser cego. Acontece que no fim da noite você abre os olhos e seu mundo volta ao normal, enquanto que um cego pode tirar a venda, abrir os olhos, que ele não volta a enxergar, nunca mais. Pode até ter sido interessante para você, mas não tenha a ilusão de que você teve um só milésimo da sensação de estar no meu lugar, porque você não teve.”

É, não tive. Ninguém pode se colocar no lugar de alguém. Pode-se tentar com máximo empenho, que é o que eu acho que faço quando atuo e esqueço de mim por algumas horas.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A BALEIA DO PINOCCHIO




De todas as coisas estranhas que andam acontecendo no mundo, entre elas, catástrofes climáticas, quedas de avião, mortes enigmáticas e epidemias que se alastram, de todas elas, que honestamente me parecem conseqüências naturais da vida que levamos, uma coisa me chamou a atenção.

Eu tinha uma pedicure aos meus pés e folheava uma revista qualquer quando bati os olhos na seguinte informação: as baleias, que são animais que se comunicam de maneira sofisticadíssima, andam encalhando nas praias. Cardumes de baleias atolados em nossas areias? Sim, isso porque o volume de embarcações humanas, que é enorme, cria um ruído constante no fundo do oceano; este ruído interfere diretamente na conversa das coitadas, que acabam por se atrapalhar em sua cantoria e em suas rotas. Bom, não bastasse a poluição sonora de nossas cidades, estamos também tirando o sono dos colegas do fundo do mar.

Perto de tudo que vem acontecendo, talvez esta informação não seja tão chocante para alguns, como é para mim. Acho que pelo fato de eu ter uma relação afetiva com as baleias desde a primeira vez em que vi Pinocchio, ou, porque ali, com os pés na bacia, eu tenha sem querer sentido o peso da responsabilidade de habitar um planeta. Uma parcela de culpa que eu esqueço ter na maior parte do tempo, ou prefiro esquecer, porque afinal, o que é que eu vou fazer para ajudar as pobres das baleias?

Pois é, não sei, mas lembro do susto que levei, quando soube pela professora de ciências do pré- primário, que a baleia, apesar de viver na água, era o maior mamífero do planeta terra. O mesmo lugar de onde as abelhas estão desaparecendo e que atualmente nos faz passar pelas quatro estações num dia só. “Esse tempo”, como diz minha avó, “tem estado infame!”. Ela, que costuma fazer pequenas caminhadas matinais no terraço da casa, e que agora, por causa do frio, tem tido que andar em volta da mesa da sala.

Morri de rir quando ela me contou o fato hoje na hora do almoço. Tentei consolá-la dizendo que sua situação de locomoção andava bem melhor que a das baleias brancas, mas acho que ela não me ouviu direito, ou não me entendeu. Só sei que não achou a menor graça.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

VASO RUIM NÃO QUEBRA

Um colega sugeriu que eu escrevesse um texto sobre a morte do teatro.
“A morte do teatro?”
“é... algo como a TV matou o teatro ou a internet vai ressuscitar o teatro!”

Por que é que as pessoas querem tanto matar o teatro?
Ele é o primo pobre e intelectual da família, aquele que fica no canto da ceia natalina, fumando escorado à porta, óculos escuros e olhar contemplativo. Ele é de longe o mais inteligente da sala, só não aprendeu ainda a fazer fortuna. E depois de uns copos a mais, ele esbraveja e passa o resto da noite importunando os presentes com as verdades que aponta na cara. Pois é, é o primo mais interessante, embora meio chato e inconveniente quando fala com o dedo em riste e a voz empostada. O primo mala. Será que é por isso que querem matar o teatro? Quando surgiu o cinema, disseram que o teatro ia morrer. Quando veio a TV, disseram que o teatro ia morrer. Então veio a internet e dessa parece que ele não ia escapar. E devem ter dito o mesmo quando inventaram o rádio, mas o teatro não morre, surpreendentemente. Anos atrás teve aquela febre em São Paulo, abriram um monte de mega livrarias e eu achei estranho. Achei que as pessoas não liam mais. Mas surpreendentemente, elas lêem. Se são coisas de qualidade eu não sei, mas o que eu quero dizer, é que assim como lêem, as pessoas continuam indo ao teatro. Em primeiro lugar por que é feito por um bando de amadores que literalmente amam o que fazem. E também por que a experiência com o teatro pode, sim, ser tão insuportável quanto aquela conversa com o primo mala. Aquela conversa onde só ele fala, onde ele pergunta e responde, não ouve a sua opinião, repete mil vezes a mesma coisa, fala mal dos outros e só sabe se lamentar. Mas se você pegar o primo num dia bom, num dia inspirado, ele vai te dizer coisas que você passou anos esperando ouvir. E vai te dizer de um jeito que te fará perder a fala, prender o ar e sentir um negócio estranho ali dentro. E você não sabe se o que sente é bom ou ruim. Então você vai embora para casa pensando que deveria ter comido menos peru, que aquele espaço que a comida está tomando de você, tá fazendo uma puta falta agora. Agora que você precisaria que este espaço estivesse vazio, agora que você precisa sentir.

Eu fujo das conversas chatas, dos meus primos malas e das peças que fazem as pessoas quererem matar o teatro. Entendo elas. Não lembro exatamente quando foi a primeira vez que o teatro me encantou, só sei que toda vez que me sento para assistir uma peça ou entro em cena para fazer parte de alguma, toda vez, eu persigo a sensação desse primeiro encontro. Sabe o casal que passa anos se beijando, esperando que o beijo volte a ser tão bom quanto aquele primeiro? É decepcionante, muitas vezes, mas quando é bom, acaba redimindo todas as noites em que se quis sair correndo no primeiro black out de uma peça. Parece um mau negócio para quem vê de fora, e talvez seja mesmo. Talvez o teatro não devolva metade do que você dá para ele. Talvez ele retribua de um jeito mais tímido, menos óbvio. O fato é que quando damos nossos primeiros passos, o teatro começa em nossa vida, com alguém aplaudindo nosso primeiro grande feito. E não pára mais. Uma coisa é inquestionável, o teatro chegou primeiro, junto com as baratas, e assim como elas, não morre fácil. Por que é resistente, imprescindível e não precisa de muito para acontecer. Já reparou quantos filmes e séries de televisão giram em torno do primo pobre? Já reparou quantas peças estão em cartaz? (eu contei até cem, depois desisti) E já notou que na maior parte das vezes que alguém te conta uma experiência transformadora, não foi com a TV, nem com o cinema, foi no teatro? Talvez ele morra naturalmente, quando o ser humano deixar de ser hipócrita, mas até lá, a presença de um primo mala é necessária, de quando em quando, como um bom espelho pela manhã. E um bom espelho não te esconde nada, nem beleza nem feiúra.

UM BLOG



Porque às vezes eu tenho muito tempo livre. E eu só gosto das horas livres, nas horas em que eu me ocupo. Porque eu quero poder falar um monte de coisas sem ter que necessariamente ir até o bar e encher o ouvido de alguém. Porque quando eu fumo escrevendo, não sinto culpa, é uma licença poética que o meu corpo dá ao cigarro. Porque eu preciso descongestionar o fluxo incessante de idéias, balizar as palavras e mudar o rumo das coisas. Porque eu quero poder elogiar ou falar muito mal de alguma coisa. E eu quero poder ser encontrada. E vou achar engraçado se alguém me escrever dizendo que o meu blog é uma ego trip. Porque talvez eu me movimente mais só para ter algum assunto no final do dia. E pode ser que a tática funcione. E aí eu vou ficar bem mais feliz. No fundo se trata disso, você faz alguma coisa porque acha que vai ser legal e você vai ser um pouquinho mais feliz a cada dia.