quarta-feira, 30 de junho de 2010

mudar

Só quando se muda, é que se percebe a quantidade de livros inúteis que ocupam lugar na estante. Só quando se muda é que se dá conta do peso de um livro, de um garfo, dos vasos. E é quando se muda que é possível notar a quantidade de pó que vive entre as coisas. As coisas. Quando se começa a colocar sua vida em caixotes, é que fica claro o número de coisas, peças, objetos que acumulamos. E como é difícil jogá-los fora! Uma pequena anta de cerâmica, uma baianinha com a saia quebrada, a pasta de papéis de carta da adolescência. E ao desmontar num dia, o que você organizou nos últimos anos, é que fica nítida a presença de uma lógica particular e absurda na forma como se guarda as coisas. Como uma gaveta de chaves perdidas que eu encontrei embaixo da cômoda, chaves e mais chaves que eu não consigo jogar fora, por pensar que em algum momento da vida, alguém vai me ligar e dizer: " Sabe aquela chave que eu pedi para você guardar? Então, preciso dela agora." Aliás, é quando se muda e se digladia com as coisas que você carrega e com a dificuldade de se lembrar ao certo de como e por que aquelas coisas vieram parar na sua casa, é que você entende que os espaços do cérebro dedicados a guardar lembranças são curtos e preciosos. Embora infinitamente maiores do que qualquer casa que possamos vir a morar. E é quando se muda, e mais, se reforma o lugar no qual você pretende morar, é que "metros quadrados", um taco original, a diferença entre o mármore importado e o granito nacional, um sifão, enfim, essas questões passam a fazer parte do seu vocabulário e interesse. Sem contar o olhar clínico que adquirimos e podemos usar cada vez que entramos na casa de alguém. Qualquer lugar do mundo, que tenha um teto e quatro paredes, é um lugar perfeito para se utilizar o conhecimento adquirido: se o local está bem acabado, se o azulejo é pintado, quanto custou aquela pia de pedra, se as lâmpadas em questão são de 20 ou 60 volts. É possível até calcular o orçamento da reforma ou construção. E é por estar com a cabeça tomada por tantas coisas cruciais, é que não se tem tempo de parar, postar, comer coisas mais nutritivas que nuggets em tapewares e tirar o resto de esmalte lilás que está na unha há vinte e sete dias.

domingo, 13 de junho de 2010

perucas

Numa manhã mal dormida, não lembro se pela ressaca ou pelos miados insistentes no vão da porta, saí em busca da moldura perfeita para minha personagem. Segue abaixo as tentativas, exceto a escolhida. Esta vocês terão de ir ao teatro para conferir.



esta sou eu, de cabelo molhado, com um chope turvo na mão


acaju, fora de moda


preto básico


que passa desapercebida


nojenta


decadence avec elegance


tentativa mal aparada de moderninha


adolescente que se acha


adolescente sem turma


argentina?


sinhá moça

terça-feira, 1 de junho de 2010

pi

O mundo é um lugar bambo. Não conheço nada mais instável do que a terra. Blocos de continente boiando em oceanos, que por sua vez bóiam no magma e sabe se lá em mais o quê. E é este mesmo globo de terra, água, rocha e lava que flutua a esmo pelo espaço. Até onde o segundo grau me ensinou sobre física, tudo coordenado pela força da gravidade, que nos faz ainda mais graves, agudos e aterrados. Não fosse o atrito, uma bola de bilhar nunca pararia de rolar. Saio de manhã para a ginástica, com a vontade de exigir garantias do mundo. "O senhor garante que meu carro vai estar aqui em meia hora?" "Acha que ela ainda vai estar viva em uma semana?" "A reforma fica mesmo pronta em quinze dias?" "E o dinheiro cai na minha conta amanhã?" "E você garante gostar de mim até lá?". E nada. A essa altura o universo se expande ou retrai distraidamente para algum lugar misterioso e eu implorando por garantias. Também o ar, células e fibras correm perfeitamente desatinados pelo corpo. Corpo?
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e quinta continua a temporada da peça meninas da loja, que eu produzo e atuo com mais algumas feras. Garanto que vou estar lá.

Autor – Caco Galhardo
Direção – Fernanda D’Umbra
Elenco – Martha Nowill, Chris Couto, Cynthia Falabella e Mari Nogueira.
Direção de arte – Simone Mina
Cenário e figurino- Simone Mina e Ofélia Lott
Iluminação – Guilherme Bonfanti
Trilha Sonora – Carcarah
Edição e Sonoplastia- Sérgio Arara
Assistente de Produção – Fabiana Vajman
Estagiária e contra-regra- Juliana Gori
Operação de som e luz- Reynaldo Thomaz
Arte Gráfica- Caco Galhardo
fotografia- Bob Sousa


Direção de Produção – Martha Nowill
Realização – Mil Folhas Produções Artísticas