domingo, 26 de junho de 2011

não é uma poesia

de todas as coisas
que nunca tive certeza
mesmo na época que nos rodeamos delas
a única certeza que sempre tive
é que eu estava certa em não ter cursado medicina como meu pai
e quando tudo parecia errado demais
eu sempre podia tirar da manga meu pensamento calmante:
"bom, de qualquer forma medicina eu não poderia ter feito"
mas hoje
depois de anos pensando que eu não poderia ser outra coisa
senão atriz
ou qualquer outra ocupação nas imediações próximas a isso
com a noite que rasteja em direção ao domingo
à minha majestosa ressaca
hoje
a idéia de ir ao teatro
desbravando os corinthianos que vêm do metrô Marechal Deodoro
gastando saliva embaixo da minha janela
em direção ao estádio do Pacaembú
junto as bombinhas
a parada Gay de cinco milhões de pessoas
o chuvisco gelado
encurralada entre os acontecimentos da cidade mais cara do mundo
sem saber em qual caminho apostar
a ideia de levar meu corpo todo
voz memória presença
colocar tanto cabelo no coque
no centro do palco
em frente a uma platéia
provavelmente vazia
já que ninguém vai conseguir chegar à praça Roosevelt
com uma São Paulo interditada
ai
tudo isso me fez pensar
que se eu tivesse feito medicina
e passasse meus dias de branco
olhando os tons de pele da cara das pessoas
sentadas a minha frente
na cadeira do consultório
ouvindo seus corações
e pulsos
colocando exames contra luz
doenças contra o tempo
eu talvez passasse mais tempo com meu pai
e talvez hoje fosse meu dia de folga
e eu não teria que sair desse sofá
e com a energia suficiente para uma cruzada
ser atriz sempre
e mais uma vez
e um pouco melhor que ontem
mesmo que todo esse devaneio esmoreça
numa pequena vala que fica entre o sono da coxia
e a luz dos refletores


para quem tiver coragem
hoje
ou nos próximos dois finais de semana, não importa o que acontecer, eu darei um jeito de estar lá