Com mais frequência que
meus banhos de mar, costumo ouvir de alguns homens “Martha, você é
romântica!”, apontamento que estaria em perfeita conformidade com a
realidade, se eles não dissessem isso com a mesma aflição que diriam “Você é
um leproso!” ao apontar para as feridas do doente. Sim, me desculpe,
sou mesmo uma romântica, lembrei disso quando desaguei em Paraty ao ouvir
Gal cantando “Baby”. Diante de tantas acusações, e do quanto minha
paciência permitiu, me joguei nas janelas rasas do google afim de relembrar o
sentido da palavra. Um movimento artístico, político, filosófico, surgido no
fim do século XVIII, caracterizado por uma visão do mundo contrária ao
racionalismo e ao iluminismo que reinavam anteriormente.
“O romantismo é a arte do sonho e fantasia. Valoriza as
forças criativas do indivíduo e da imaginação popular. Opõe-se à arte
equilibrada dos clássicos e baseia-se na inspiração fugaz dos momentos fortes
da vida subjetiva: na fé, no sonho, na paixão, na intuição, na saudade, no
sentimento da natureza e na força das lendas nacionais.”
Ou ainda, “relativo
à narrativa imaginosa”, frase que me rendeu uma boa gargalhada, será
que tudo não passa da minha imaginação Dom Quixote?
Claro que o
termo foi banalizado e descaracterizado, mas acho que tem a ver. O que acontece
é que sou romântica, mas não sou burra. Tenho plena ciência de que os casais
não conseguem mais se suportar por uma vida inteira. De que todos olhamos para
os lados, para trás, frente e ainda diagonais, mesmo estando comprometidos. De
que a maioria de nós mantém aquele flerte inútil nas mensagens inbox do
facebook para termos certeza de que sim, somos desejados por mais gente além
daquele com quem dividimos a cama. Sei que vivemos um momento onde as antigas
formas e instituições afetivas já decretaram falência. Que o novo já está,
embora não saibamos exatamente como ele se porta, e de que, obviamente, é
desesperadora a ideia de que nunca mais vamos transar com outra pessoa além do
nosso parceiro. Por isso subvertemos freqüentemente a cartilha da fidelidade
afim de dar sobrevida ao romance. Com a culpa lidamos depois. Resumindo, sei
que eu e minha visão romântica somos inviáveis e estamos totalmente fodidas e
fora de moda. Em minha defesa posso argumentar que eu e ela não estamos em
busca da perfeição, nem da eternidade. Por isso acolhemos o tal amor líquido,
sólido como uma ereção, efêmero como os pernilongos, o amor inventado, o amor
goleiro de Xico Sá, que sente medo diante dos pênaltis. Não queremos nada além
da fé em nós mesmos e de uma chance para sair do banco de reservas, afinal,
treinamos diariamente para isso. Eu e minha visão romântica, queremos apenas
marcar um gol, mesmo que seja para perder o campeonato. E lidamos bem com isso:
tomamos algum isotônico para evitar as câimbras, fazemos nossa série de
alongamentos e nos dirigimos ao vestiário, onde embaixo da ducha lembramos que sempre haverá uma nova temporada.
O que nós não
queremos é ter que fingir que somos outra coisa, pois cansamos de ser modernas.
E também pedimos que por favor, parem de nos encher o saco com essa história de
que sou romântica, sou muitas coisas além disso: bonita, gostosa, inteligente,
ansiosa, inconveniente, louca.
Ré confessa.