terça-feira, 29 de dezembro de 2009

o novo ano

As pessoas vêm para São Fransisco Xavier descansar e eu para sair das pequenas encrencas nas quais me meto. No primeiro dia fui ao hospital da cidade para saber se a topada que dei no pé era uma contusão, fratura ou luxação. Era contusão. No segundo dia fui novamente à cidade atrás de um borracheiro para o pneu furado. No terceiro e presente dia, tenho de correr atrás do meu celular que, ou bem ficou esquecido na lojinha de verduras ou se perdeu na ribanceira da casa de um amigo, mesmo lugar onde deixei cair uma garrafa de vinho tinto retinto no tapete novo de algodão branco da sala. Problemas de caráter ameno, doméstico, mas que acabam atormentando meus dias de descanso.

Um grande feito da viagem é a vinda de Romit, meu gato. Como já mencionei anteriormente, Romit é um gato peculiar que ganhei de um cigano lá de Santo André, tem asma, uma orelha quebrada e mia como uma coruja quando cisma de. A questão é que eu não agüento mais sair de São Paulo e deixá-lo trancado no apartamento, sozinho, dependendo das visitas do zelador para se comunicar com o mundo. Toda vez que volto são necessários mais ou menos quinze dias para que ele se recupere da minha ausência. É possível que você esteja pensando “Puta gato chato, se livra logo dele.” Sim, ele de fato é um tanto quanto chato, mas é meu, e não é justo pegar um bicho para criar e fazê-lo infeliz, ou qualquer que seja o adjetivo para denominar um animal judiado. Por isso decidi trazer o Romit para São Fransisco Xavier, e contrariando as expectativas dos especialistas de que ele se meteria embaixo da cama e não sairia mais, ou sairia correndo atrás de um passarinho e se perderia na mata, meu gato está feliz como nunca. Passa o dia estendido no terraço, corre atrás de insetos, volta para fazer suas refeições e dormir no tapete. A asma quase desapareceu e ele parou de miar. Já se vão mais de três anos e só agora descubro que o bicho que mora comigo não é um gato de apartamento como eu pensava, e sim um bom selvagem, adepto a vida do campo e suas vicissitudes.

Romit certamente tem se adaptado melhor do que eu ao ambiente rural, mas não perco a esperança de ainda ter um dia inteiro para mim, na rede, sem ter que resolver nada além da escolha do sabor do bolo que vou assar depois do almoço, se vai ter carne ou peixe no jantar ou se tomo banho de ducha ou rio.

Eu iria ao cinema se estivesse em São Paulo, a um mercado turco se estivesse em Istambul, a nenhum lugar se fizesse o frio de Moscou ou a ponte Pênsil se morasse em Piracicaba. Daqui onde me encontro vou ajeitar oferendas para Iemanjá, tentar terminar o livro que comecei seis meses atrás e esperar o novo ano, que além de ser só mais um, vai ser um grande ano para todos nós.

5 comentários:

  1. hahahahahhaha... quer dizer que vc ja dando um jeito de causar aí também?? hahaha... Bom seu gato é um porre de chato mesmo. Mas em 2009, uma das boas coisas que rolou foi eu ter tido a oportunidade de conhecer o dito felino meu conterrâneo e sua dona também. Descobri uma mulher forte, inteligente, classuda, elegante, jeito de Anouike Aimée, andar a la Grace Kelly, predileção etílica pra lá de Noel Rosa mesmo. Tu foi um dos meus projetos que deu muito certo e agora quer te pentelhar e falar mal desse gato feio pra sempre. É muito bom ser seu amigo, mulhé...

    beijo e feliz 2010

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  2. Menina, que linda... escreve lindamente... me inspira!

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  3. Querida Brenda! vc que me inspira toda vez que te vejo de sorrisão por aí!bj

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  4. "Tipo assim...", lindo! Beijos pra você!

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