
Passei anos sem pegar o buquê da noiva. Um dia minha melhor amiga pegou, no casamento da outra melhor amiga, e sob conselhos maternos levou-o até o pé de Santo Antônio na igreja do bairro. Foi aí que meu calo apertou, e eu também quis um buquê.
Na semana seguinte tinha o casamento de uma prima, tudo bem chique, floral, com camarões empanados para acompanhar.Na hora do buquê, posicionei-me estratégicamente, finquei o pé no chão e disse em voz alta "Este buquê é meu.". Para minha grande surpresa o buquê voou redondo pelo ar, dando uma pirueta em minha direção. "Eu disse que era meu", vangloriei-me, mas não era, caiu nas mãos da minha tia Valéria, que estava meio metro adiante. Ela deve ter sentido as moléculas de frustração que meu corpo exalou em direção ao dela, e imediatamente me repassou o buquê. Foi quase como um toque de vôlei, e como eu já estava de prontidão, com as caneleiras em punho e os olhos atentos, ninguém percebeu. Todos acharam que o buquê tinha caído em minhas mãos, e eu pude desfilar tranquilamente pela festa com meu troféu.
Dia seguinte fui à igreja Nossa Senhora do Brasil levar minha oferenda para o santo. Não satisfeita fui descalça, achando que aquilo poderia funcionar como um bonûs extra. Desci a rua Augusta com uma espécie de farsa entre os dedos: o buquê roubado, ou melhor, o buquê concedido, o buquê da consolação. Ainda assim mantive o enredo e coloquei-o nos pés de porcelana. Por um segundo tive plena consciência de tudo, e quis que houvesse ali alguma câmera atrás de mim, que tudo não passasse de uma grande encenação e que dali a pouco eu tomaria um café açucarado com o foquista. Mas tratando-se de mim, aquilo, na verdade não era nenhum absurdo. Voltei descalça e suada para casa.
Dois anos depois, no meio de uma pista de dança anunciaram novamente a jogada do buquê. Eu corri, desta vez na direção oposta. "Desta vez quem não te quer sou eu."E fui para o canto, bem longe da noiva, para rir e desdenhar das ansiosas e novatas no assunto. "Essa humilhação nunca mais.", pensei. Mas eis que no três, em movimento bumerangue, o buquê pinga na minha cabeça e caí nas minhas mãos. Amanheceu num copo de requeijão, na pia de casa, onde permaneceu durante toda sua vida útil. Muitas coisas aconteceram entre um buquê e outro, mas os detalhes são dispensáveis.
Segunda passada estive em um casamento. Na hora do buquê, a noiva reclamou que havia poucas mulheres na pista e eu tratei de ir ao jardim chamá-las. Quando voltei ao salão, o buquê já tinha sido jogado. E eu gostei de não ter que tomar nenhum tipo de posicionamento espacial na cena. Já estou satisfeita de buquês, dos falsos e verdadeiros, e esta é uma afirmação baseada em fatos reais. Parece que a moça que pegou o dito cujo, tomou um banho de champanhe na hora em que saltou para resgatá-lo. Que daqui para frente, ela sempre tenha uma garrafa de espumate gelada em sua geladeira, e muita sorte, intercalada com algum azar, só para ela poder distinguir melhor uma coisa da outra.