Com essa idade já tenho um bom material para algumas retrospectivas. Aí vai a primeira:
primeira classe
primeiro papel masculino
primeira foto queima filme
primeira comunhão
primeira tigresa
primeira bailarina
primórdios
a gangue
bernardas
amigas, queridas, entediadas
amor
irmãs
as fedidas mais cheirosas do Brasil
primas
irmã e vó
edukator
brutal
mulheres da vodka
foto de revista
meninas da loja
e os olhos
Hoje é meu aniversário. Há exatos vinte e nove anos e trezentos e sessenta e quatro dias atrás minha mãe resolveu fazer uma faxina na casa e eu fiz uma volta de trezentos e sessenta graus dentro da barriga dela. E foi assim que eu dei as caras por aqui, numa cesariana de última hora, sentada com a bunda onde supostamente a cabeça deveria estar. Já cortei um bolo hoje, mas não fiz nenhum pedido, porque isso eu faço todo dia. Hoje eu só agradeci. É claro que eu tenho problemas, frustrações, perengues, assim como quase todo mundo que está vivo e mora em São Paulo, pelo menos uma vez por dia acho a vida infernal. Mas isso não me impede de dizer que eu adoro tudo isso aqui, eu gosto desta condição, de estar viva, do dia de hoje, das possibilidades de amanhã e até da náusea ou saudades que sinto quando eu olho para trás. Eu gosto de datas como natal, aniversário, o que que eu posso fazer, apesar da braveza escorpiana e da selvageria que é a vida, eu sou uma eterna romântica, otimista, boa moça, ainda que as coisas estejam no seu pior estado, eu acho que depois que elas pioram, sempre vão melhorar. Eu sei, parece discurso de miss e não é lá muito charmoso, mas não estou nem aí para o retorno de saturno, pro inferno astral, pros cabelos brancos ou a balzaquice. Eu quero mais é me divertir e que os outros se divirtam também.
sábado, 30 de outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
o embate
Esta semana estreio mais uma peça. Meu amigo Caco Galhardo, diante de meu convite para a estreia da terceira peça do ano, perguntou se eu estava abrindo uma pastelaria de peças. Não, retruquei na hora, não tem franquia, nem pastelaria, faço todas com igual afinco, é que teatro é assim mesmo, quando a maré está baixa, é uma seca total, e quando enche, todos os peixes vêm de uma vez só. Mas voltando ao "Rancor", minha personagem é uma jornalista, e por isso andei por algumas redações e consegui um convite para o debate no último domingo por que achei que seria um bom laboratório. De fato foi. Um lugar surreal, onde, apesar de todos os artificialismos, regras, imposições e interesses, me senti no meio de uma ágora grega, em pleno debate democrático. Quanta fúria, bagunça, ímpetos,controvérsias e excesso de opinião.
Os candidatos, que já se mostravam cansados na tv, pessoalmente pareciam mais cansados ainda. Nos intervalos seus assessores assemelhavam-se a treinadores de boxe colocando protetores de dentes e jogando água e auto-estima em cima de seus pupilos. Mas o mais interessante era ver a reação do outro candidato enquanto ouvia a resposta do seu adversário. Sim, por que na tv não tem contra plano em debate, mas pessoalmente é interessante ver um presidenciável ouvindo secamente seu oponente e matutando novas réplicas durante o discurso alheio. E a platéia! Quanto ruído, quantos blocos de anotacão, cliques de câmera, gunhidos, risos e onomatopéias soltas no ar; um capitulo a parte, sessenta segundos por minuto conectado ao twitter. Intercalava momentos de alta tensão com outros de extrema falta de educação. Kennedy Alencar, o mediador, pedia silêncio, mas de nada adiantava, o público não se continha. E eu não sabia ao certo como me portar. Antes de sair de casa estava com um vestido alegre, verde gritante. Já na frente do espelho do elevador, lembrei que não poderia ir com ele, imaginei uma platéia de homens e mulheres em ternos pretos e blazeres azuis marinhos. Me vi no meio deles, de verde limão. Voltei para o armário. Uma camisa vermelha. Não. Uma vestido azul. Não. Qual cor seria mais imparcial que o preto? E foi assim que me vesti, de negro, acompanhada da minha amiga Bel Coelho, do outro lado o governador, na frente de um senador e atrás de uma boa dúzia de políticos que costumo ver diariamente nas páginas do jornal. Eu, não mais atriz do que muitos que ali estavam, um peixe fora da água, a paisana, tentando me comportar da forma mais natural possível, segurando uma vontade gigante de gritar como se grita num campo de futebol.
Passei o tempo todo boquiaberta com o jogo, admirando algumas falas, me entediando com outras e torcendo. Para quem, não vem ao caso. O fato é que política é um negócio emocionante, um negócio feio, bonito também, e é só para quem tem muita vontade e sangue frio.
E eu, que costumo chorar só de ouvir os primeiros acordes do hino nacional, que me emociono quando alguém pronuncia a palavra pátria na minha frente, nunca contive tanta expectativa, espanto e riso diante do futuro do meu país.
Os candidatos, que já se mostravam cansados na tv, pessoalmente pareciam mais cansados ainda. Nos intervalos seus assessores assemelhavam-se a treinadores de boxe colocando protetores de dentes e jogando água e auto-estima em cima de seus pupilos. Mas o mais interessante era ver a reação do outro candidato enquanto ouvia a resposta do seu adversário. Sim, por que na tv não tem contra plano em debate, mas pessoalmente é interessante ver um presidenciável ouvindo secamente seu oponente e matutando novas réplicas durante o discurso alheio. E a platéia! Quanto ruído, quantos blocos de anotacão, cliques de câmera, gunhidos, risos e onomatopéias soltas no ar; um capitulo a parte, sessenta segundos por minuto conectado ao twitter. Intercalava momentos de alta tensão com outros de extrema falta de educação. Kennedy Alencar, o mediador, pedia silêncio, mas de nada adiantava, o público não se continha. E eu não sabia ao certo como me portar. Antes de sair de casa estava com um vestido alegre, verde gritante. Já na frente do espelho do elevador, lembrei que não poderia ir com ele, imaginei uma platéia de homens e mulheres em ternos pretos e blazeres azuis marinhos. Me vi no meio deles, de verde limão. Voltei para o armário. Uma camisa vermelha. Não. Uma vestido azul. Não. Qual cor seria mais imparcial que o preto? E foi assim que me vesti, de negro, acompanhada da minha amiga Bel Coelho, do outro lado o governador, na frente de um senador e atrás de uma boa dúzia de políticos que costumo ver diariamente nas páginas do jornal. Eu, não mais atriz do que muitos que ali estavam, um peixe fora da água, a paisana, tentando me comportar da forma mais natural possível, segurando uma vontade gigante de gritar como se grita num campo de futebol.
Passei o tempo todo boquiaberta com o jogo, admirando algumas falas, me entediando com outras e torcendo. Para quem, não vem ao caso. O fato é que política é um negócio emocionante, um negócio feio, bonito também, e é só para quem tem muita vontade e sangue frio.
E eu, que costumo chorar só de ouvir os primeiros acordes do hino nacional, que me emociono quando alguém pronuncia a palavra pátria na minha frente, nunca contive tanta expectativa, espanto e riso diante do futuro do meu país.
domingo, 10 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
esta semana
uma ingenuidade: achar que a tinta esmalte vermelha ia aderir à pia branca do banheiro do meio.
uma gafe: dizer em alto e suficiente som a senha do meu cartão para a moça do caixa.
uma preguiça: descer três vezes a Consolação na hora do rush.
uma alegria: descer três vezes a Consolação na hora do rush para chegar no teatro.
uma esperteza: ir pela Angélica.
uma burrice: esquecer de ir pela Angélica.
um santo: dois, São Cosme e São Damião.
uma refeição perfeita: kir royal, hamburguer, kir royal
uma anti-refeição: engulir um club social sabor cebola entre um compromisso e outro.
uma novidade: chuvas fartas
outra novidade: Micaella está falando.
um cheiro: de gás.
um perigo: o gás vazando enquanto eu dormia.
um remake: o debate eleitoral.
uma desilusão democrática: atrás da outra.
uma saudade:
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