quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cachorrada!

E lá estava eu. Atrás de um homem com o dedo cortado envolto num guardanapo ensanguentado e na frente de um tipo com um trauma interno. Há duas horas, numa fila do pronto socorro, com uma mordida na coxa direita bem maior do que se imaginaria por aquele tipo de cão. "Trinta? Você tá tão assustada que achei que fosse mais nova..." disse a enfermeira. "Água com sabão, melhor que muito remédio.", ela dizia rindo. Engraçado como esse povo ri em salas de pronto atendimento. E você inerte, naquela maca molhada do álcool recém-evaporado do caso anterior."Tá doendo.", choraminguei, "Ah, dói mesmo, parece que o bicho agarra lá no músculo de um jeito que, olha, dói muito."

Paracetamol.

O Parque da Redenção, mesmo cenário da briga que tivemos no dia anterior. Não havia quase gente, só um monte de árvores, terra e brisa. De repente aquele cão, fincado na minha coxa direita. E um velho afobado, magro, mais raivoso que o próprio animal. E eu, pega absolutamente de surpresa como quase sempre na vida. Anti tetânica, anti-rábica, gaze e esparadrapo. A vida continua, ainda que doa. O roxo cresceu com o passar dos dias, a embocadura do bicho gravada na carne inchou, e a ferida começou a fechar. Enquanto isso, minha raiva de tudo minguava a cada hora. Não sei o que aquele cão viu em mim. Astor, seu nome. Mas ele deve ter farejado alguma coisa. Seja lá o que for, deixei tudo o que pude naquele parque, no hospital e nas salas de cinema onde me enfurnei nos dias subsequentes.

Um comentário:

  1. Para esquecer o episódio do Astor no parque, sugiro uma estadia no Astor on the Park em Nova York. Tá feito o convite. Vamos?

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