quarta-feira, 20 de abril de 2011
os astros
É batata, percebo que estou meio sem ideia de rumo na vida quando começo a consultar o horóscopo. É assim, os dias vão ficando meio pastosos, eu pego uma gripe,o trabalho meio truncado, coisa assim, e dá-lhe horóscopo. Mas pode ter certeza, quando eu estou muito angustiada ou confusa, entediada, enfim, naqueles estados que tentamos evitar estar, mas que quanto mais evitamos mais eles se instalam como posseiros folgados nos nossos limites de terra, enfim, quando a coisa aperta, aí sim, eu leio TODOS os horóscopos. Do quiroga, da folha, do personare, do Bom dia Bauru, do Jornal de Araraquara, o que vier eu traço.
As frases costumam funcionar como pílulas de compreensão súbita, onde tudo faz sentido agora já, ou de "Ai meu deus, tá tudo errado, eu sabia, devia ter lido isso antes." Mas, ali no fundo, bem longe das frases cifradas e poéticas dos horóscopos diários, além da epiderme, da verve, ali quietinho, mora em mim um sujeito bem sábio, uma espécie de Mestre dos Magos, um velhinho de praça do interior, um pequeno buda paulistano, e esse sujeito sopra no meu ouvido diariamente, e ri da minha versåo desesperada. "Onde você vai?" ele pergunta, "Checar o horóscopo" respondo.
Mesmo sabendo que essa peregrinação toda não vai me levar a lugar algum que não seja a uma nova indagação. O que talvez já seja algo que o valha. Bom mesmo seria possuir um oráculo particular, ao estilo de tebas, claro, que não desse notícias trágicas, mas estivesse ali para o caso de dúvidas lancinantes e anseios futurísticos.
Geralmente os horóscopos não batem e até se contradizem. Alguns amigos jornalistas adoram dizer que não passam de um sorteio na redação, que aos moldes de um poema dadá, escreve a sorte do dia aleatoriamente. Eu sei que não é assim, acredito na astrologia bem estudada, bem feita. Mas nas já citadas fases de desespero, quando checo todos os horóscopos do país, nunca tinha encontrado semelhança entre eles.
Só hoje, que saiu assim:
Aqueles personagens de peso que até aqui só davam trabalho e complicavam tudo começam a tornar-se parceiros e colaboradores. Isso vai mudar substancialmente o panorama com que você deve lidar todos os dias.
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Entre os dias 20/04 (Hoje) e 14/05, o planeta Vênus estará passando pela Casa 11 do seu mapa de nascimento, Martha, favorecendo particularmente as suas relações de amizade e as suas convivências grupais. É uma fase de melhoria no que diz respeito ao entendimento entre as partes. Você terá uma importância maior entre seus amigos neste momento, terá mais requisições para aparecer, e sentirá que as pessoas lhe querem mais. É bastante provável, inclusive, que você se veja em situações em que precise tomar atitudes a fim de harmonizar e equilibrar dificuldades na vida de seus amigos.
Este é um bom momento para atividades culturais: teatro, cinema, e o melhor, tudo em grupo, com bons amigos. O perigo, para esta fase, é que muitas vezes o nível de afetividade entre amigos aumenta tanto que corre o risco de alguma relação do estilo platônico se instalar em sua vida, com você se interessando por uma pessoa que é apenas amiga, ou vice-versa. Convém saber separar as coisas e observar direito para avaliar direito o que tem e o que não tem a ver.
Neste momento, as amizades com mulheres estão mais favorecidas, Martha, assim como a amizade com pessoas ligadas ao meio artístico.
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Se até agora a delícia estava em agir por conta própria, no bloco do eu sozinho, agora você descobre, num estalo, o perfume dos bons relacionamentos. O sol entra em touro, de repente a cor bonita do mundo surge a partir de afetos e apoios leais de alguns seres.
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Não é preciso ser um gênio para notar as semelhanças, e nem de consultar os astros para querer ver os amigos, só uma pena essa profusão de odes a amizade acontecer as véperas do feriado quando todos estão fora. Eu fico por aqui, a comer poeira, ainda que um pouco confusa, feliz se puder cruzar as pessoas que gosto, enquanto espero essa quaresma acabar. E a páscoa chegar.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
ardências e invocacões
E foi assim que eu decidi fazer comida indiana. Do nada. Montamos um cardápio de um livro alemão de receitas. Sim, um cardápio indiano sendo traduzido do alemão para o português. Mais complicado impossível.
Feno grego? Cominho cruzado? Chili verde? Folhas de curry? Todos os tipos de massala, páprika e cúrcuma possíveis. Nunca tinha ouvido falar desses temperos, mas eles existem e, surpreendentemente, podem ser comprados aqui em São Paulo. Começamos os trabalhos às 11 da manhã: os temperos, ir atrás do gui, (que é uma manteiga a moda indiana com menos gordura), comprar flores, inventar uma sobremesa, colocar o chá para ferver horas antes, enfim.
A mesa de casa parecia uma banca do mercado, cheia de pimentas, peixes, legumes, especiarias, farinha, incensos e velas.
Por um instante cheguei até a ouvir o farfalhar das águas do Ganges atrás de mim. Claro, devia estar louca de tanto aspirar especiaria.
Tudo lindo mas deu um puta trabalho. Se o livro dizia, tempo de preparo 1h 40 min, a gente demorava 5 horas, se dizia 40 minutos, a gente levava uma hora e meia.
E o cardápio saiu dessa maneira:
Samosas de entrada (com massa caseira e tudo o mais).
Legumes ao forno no iogurte (que eu passei a receita toda pensando estar fazendo uma salada e no fim era um refogado; culpa das fotos enganosas de livros de receita).
Peixe no leite de côco ( que por conta da minha inabilidade com facas, se despedaçou tanto que virou uma moqueca, algo assim).
Arroz no limão com amendoim (que empapou, mas a culpa não foi minha, foi do João).
E de sobremesa, como não dava tempo de fazer o sorvete de pistache da receita eu comprei um sorvete kibon mesmo, de creme e esmigalhei umas sementes de cardamono em cima (para não sair do clima indiano) e servi com doce de abóbora e uma mistura de nozes e pistache no mel que minha mãe trouxe há um ano atrás da Turquia e eu nunca soube o que fazer com aquilo.
Preciso me gabar, por que apesar de todos os contratempos, cada prato preparado, ficou muito melhor do que imaginei.
Os convidados não entenderam muito bem, já que tinham sido convidados para um simples jantar e deram de cara com aquela sala com cara de templo indiano e a casa toda cheirando a ala de especiarias do mercado municipal. Eu até cogitei vestir um sari, mas achei over e que ia ficar com cara de jantar da novela das oito.
Tudo foi tão verossímel que os amigos pensaram que a qualquer momento um guru indiano ia adentrar a sala pra algum tipo de ritual. Alguém me perguntou de canto: "Escuta, você tá querendo engravidar? Isso é algum tipo de invocação à fertilidade?"."Não, respondi, é falta do que fazer mesmo."
Depois me arrependi da resposta, pois fiquei parecendo uma dona de casa entediada, inventando estripulias culinárias. O que não é verdade, vocês estão de prova, vivo correndo contra o tempo.
Além de tudo fiquei encucada, será que os deuses tão achando que de fato estou fazendo uma cerimônia da fertilidade? Olha, não é bem assim, só que daqui uns anos, ok?
Uma semana depois, admirada com a cesta cheia de temperos que a dispensa herdou do jantar temático, achei que deveria fazer uma pimenta em conserva, já que a pimenteira estava carregada de frutos maduros. Eu nem gosto de pimenta, na verdade, só acho lindo aqueles potes tranparentes, vermelhos, cheios de alho, azeite e pimenta boiando.
Pesquisei na internet, perguntei para o zelador, a faxineira, para deus e o mundo, como proceder com as pimentas. Mil dicas me deram, só que ninguém me disse para usar luvas. E assim, depois de horas cortando pimentas, raspando as sementes com a ponta dos dedos e etc, passei vinte e quatro horas com as mãos em fogo. Parece força de expressão? Exagero de uma atriz escorpiana dramática? Mas não é. Ardia tanto a ponto d'eu chegar no restaurante e estar tão desconcertada com a dor, que tive que pedir um copo de leite e enfiar minhas mãos dentro dele. As duas. Bem elegante.
Feno grego? Cominho cruzado? Chili verde? Folhas de curry? Todos os tipos de massala, páprika e cúrcuma possíveis. Nunca tinha ouvido falar desses temperos, mas eles existem e, surpreendentemente, podem ser comprados aqui em São Paulo. Começamos os trabalhos às 11 da manhã: os temperos, ir atrás do gui, (que é uma manteiga a moda indiana com menos gordura), comprar flores, inventar uma sobremesa, colocar o chá para ferver horas antes, enfim.
A mesa de casa parecia uma banca do mercado, cheia de pimentas, peixes, legumes, especiarias, farinha, incensos e velas.
Por um instante cheguei até a ouvir o farfalhar das águas do Ganges atrás de mim. Claro, devia estar louca de tanto aspirar especiaria.
Tudo lindo mas deu um puta trabalho. Se o livro dizia, tempo de preparo 1h 40 min, a gente demorava 5 horas, se dizia 40 minutos, a gente levava uma hora e meia.
E o cardápio saiu dessa maneira:
Samosas de entrada (com massa caseira e tudo o mais).
Legumes ao forno no iogurte (que eu passei a receita toda pensando estar fazendo uma salada e no fim era um refogado; culpa das fotos enganosas de livros de receita).
Peixe no leite de côco ( que por conta da minha inabilidade com facas, se despedaçou tanto que virou uma moqueca, algo assim).
Arroz no limão com amendoim (que empapou, mas a culpa não foi minha, foi do João).
E de sobremesa, como não dava tempo de fazer o sorvete de pistache da receita eu comprei um sorvete kibon mesmo, de creme e esmigalhei umas sementes de cardamono em cima (para não sair do clima indiano) e servi com doce de abóbora e uma mistura de nozes e pistache no mel que minha mãe trouxe há um ano atrás da Turquia e eu nunca soube o que fazer com aquilo.
Preciso me gabar, por que apesar de todos os contratempos, cada prato preparado, ficou muito melhor do que imaginei.
Os convidados não entenderam muito bem, já que tinham sido convidados para um simples jantar e deram de cara com aquela sala com cara de templo indiano e a casa toda cheirando a ala de especiarias do mercado municipal. Eu até cogitei vestir um sari, mas achei over e que ia ficar com cara de jantar da novela das oito.
Tudo foi tão verossímel que os amigos pensaram que a qualquer momento um guru indiano ia adentrar a sala pra algum tipo de ritual. Alguém me perguntou de canto: "Escuta, você tá querendo engravidar? Isso é algum tipo de invocação à fertilidade?"."Não, respondi, é falta do que fazer mesmo."
Depois me arrependi da resposta, pois fiquei parecendo uma dona de casa entediada, inventando estripulias culinárias. O que não é verdade, vocês estão de prova, vivo correndo contra o tempo.
Além de tudo fiquei encucada, será que os deuses tão achando que de fato estou fazendo uma cerimônia da fertilidade? Olha, não é bem assim, só que daqui uns anos, ok?
Uma semana depois, admirada com a cesta cheia de temperos que a dispensa herdou do jantar temático, achei que deveria fazer uma pimenta em conserva, já que a pimenteira estava carregada de frutos maduros. Eu nem gosto de pimenta, na verdade, só acho lindo aqueles potes tranparentes, vermelhos, cheios de alho, azeite e pimenta boiando.
Pesquisei na internet, perguntei para o zelador, a faxineira, para deus e o mundo, como proceder com as pimentas. Mil dicas me deram, só que ninguém me disse para usar luvas. E assim, depois de horas cortando pimentas, raspando as sementes com a ponta dos dedos e etc, passei vinte e quatro horas com as mãos em fogo. Parece força de expressão? Exagero de uma atriz escorpiana dramática? Mas não é. Ardia tanto a ponto d'eu chegar no restaurante e estar tão desconcertada com a dor, que tive que pedir um copo de leite e enfiar minhas mãos dentro dele. As duas. Bem elegante.
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