terça-feira, 19 de julho de 2011

hora mágica

O quarto estava coberto de neblina, ou talvez fosse a fumaça do vaporizador nos primórdios da manhã. O lençol era tão bem assentado que parecia ter acabado de passar pelas mãos de uma engomadeira da corte de Luíz xv. A luminosidade não era daqui, definitivamente. Você entrou, devagar como sempre, deixando a mala no chão e o ângulo de luz entrar pela porta. Fecha, eu disse. Você veio em direção à cama, apoiou os dois joelhos e trouxe o corpo em minha direção. Eu senti o cheiro de gasolina no seu cabelo e lembrei de como é cheia a rodoviária da cidade nas manhãs de um dia útil. Você me abraçou como se fosse se despedir, embora tivesse acabado de chegar. Você me abraçou como se nos resgatasse, eu e meu corpo em estado de hipotermia, de um afogamento. Você riu. Eu não pude ouvir o som de como você ria, mas senti os músculos da sua face se contrairem contra a minha. Eu ri também. Muito. E lembrei do colar de águas marinhas da minha mãe, das fotos de nuvens estranhas que aparecem na Nova Zelândia. Você disse que nunca tinha ido numa praia de pedras. Eu já, e ferviam. Pedras quentes ao sol, eu disse. Acordei e você não estava lá.

2 comentários:

  1. "Fui perdendo toda aquela vontade de manter as mesmas coisas dos mesmos e velhos jeitos. Tinha me cansando do jeito com a qual os seres humanos a minha volta estava tratando as coisas, nesse caso, as minhas coisas. Excesso de confiança talvez nunca tenha existido, dai eu me recordo que nunca fui uma pessoa ao qual as confidencias fossem um porto seguro. Sei lá, pensava apenas que as coisas deveriam servir para a gente aprender, mas, de um jeito muito estranho fui me distanciando da realidade e por hora, fui me distanciando de todos e tudo que tentava me cercar. Penso que não posso mais precisar dos favores dos outros, pois de certa forma, eles me vem cobrar depois tudo que antigamente já haviam me feito. Preferi então, me trancar nesse quarto todo pintado de falta de luz. Chorei por dias e noites; recolhi sobre a toalha branca que envolvia minha cama e lá depositei todo a minha angustia. Se um dia existiu alguma coisa boa, ela morreu e para onde foi nunca mais intercederá por aquilo deixado aqui no lamaçal por debaixo do Céu. Decidi morrer, mesmo que em poucas proporções..."

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