terça-feira, 7 de agosto de 2012

teria graça se fosse de outro jeito?





É um filme. Tem o personagem do homem que vai ao cassino. É um meio de tarde e ele nem está tão arrumado quanto pediria a situação.  Num único ato de imprudência ele junta todas suas fichas, as pretas, verdes, vermelhas listradas de branco, todo o seu carrossel milionário de cores e aposta tudo numa jogada só. Lembra dessa cena?  De alguma parecida? O homem sente um frio enjoativo na barriga, um sopro no coração, uma câimbra nos dedos da mão. Uma senhora ao lado mordisca a segunda azeitona do Dry Martini enquanto lembra da última vez que teve tanta ousadia. 

Ele vai perder, arrisca o palpite. 

Uma dupla de turistas japoneses ri. O funcionário da casa repara que  o pulso de sua camisa branca está consideravelmente amarelado enquanto recolhe guardanapos amassados.

A roleta gira vagarosamente aos olhos do apostador, rápida aos do expectador. Metade da sala do cinema acha que ele vai perder. A outra metade torce pela sorte do herói. O homem se contorce em cálculos matemáticos renais enquanto o cheiro de fritura escapa da cozinha do cassino. A medida que a roleta gira ele dissolve. E sentir é o que basta para ser.  Desavisadamente, é o que eu quero que você faça. Aposte tudo o que você juntou na vida inteira. Em mim. Veja bem, eu não sou aquela moça do casaco de pele que fica na ponta da mesa de feltro verde e que vai beijar seus dados para te dar sorte. Eu não sou a fortuna que você está prestes a ganhar ou perder. Eu sou a própria roleta. E nós não estamos na tela do cinema. Ninguém torce contra ou a favor de nós.  Eu não posso te garantir nada. Mas não consigo te pedir menos do que tudo.

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