É um filme. Tem o personagem do homem que vai ao cassino. É
um meio de tarde e ele nem está tão arrumado quanto pediria a situação. Num único ato de imprudência ele junta todas
suas fichas, as pretas, verdes, vermelhas listradas de branco, todo o seu carrossel milionário de cores e
aposta tudo numa jogada só. Lembra dessa cena?
De alguma parecida? O homem sente um frio enjoativo na barriga, um sopro
no coração, uma câimbra nos dedos da mão. Uma senhora ao lado mordisca a segunda
azeitona do Dry Martini enquanto lembra da última vez que teve tanta ousadia.
Ele vai perder, arrisca o palpite.
Uma dupla de turistas japoneses ri. O funcionário da casa repara que o pulso de sua camisa branca está
consideravelmente amarelado enquanto recolhe guardanapos amassados.
A roleta gira vagarosamente
aos olhos do apostador, rápida aos do expectador. Metade da sala do cinema acha
que ele vai perder. A outra metade torce pela sorte do herói. O homem se
contorce em cálculos matemáticos renais enquanto o cheiro de fritura escapa da
cozinha do cassino. A medida que a roleta gira ele dissolve. E sentir é o
que basta para ser. Desavisadamente, é o
que eu quero que você faça. Aposte tudo o que você juntou na vida inteira. Em mim. Veja bem, eu não sou aquela moça do
casaco de pele que fica na ponta da mesa de feltro verde e que vai beijar seus
dados para te dar sorte. Eu não sou a fortuna que você está prestes a ganhar ou
perder. Eu sou a própria roleta. E nós
não estamos na tela do cinema. Ninguém torce contra ou a favor de nós. Eu não posso te garantir nada. Mas não consigo
te pedir menos do que tudo.
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