sexta-feira, 2 de outubro de 2009

para onde?

É interessante ver a cidade mudando, na sua fuça, como um bicho de estimação crescendo entre aqueles que você ama. Essa mãe infiel, que muda de cara toda vez que você se distrai. Primeiro foi o Vegas, acho, depois o Inferno , outras casas noturnas, lugares descolados para se comer e quando a gente viu, a antiga Vila Madalena, na época em que era legal ir à Vila Madalena, mudou-se para a rua Augusta, lado centro. A mesma rua que, nos tempos da minha mãe, era um lugar chiquérrimo para se desfilar os cabelos alisados com a toca noturna. A rua mais democrática do lado Jardins, a rua que não tenho dúvidas em pegar se tenho de voltar a pé na madrugada, a rua para onde meus amigos solteiros estão se mudando. Até onde sei, as putas saíram da zona para a boca e da boca, (a boca ainda existe?) para alguns lugares, inclusive a rua Augusta. E agora todos convivem harmoniosamente: quem quer balada pesada, as moças de vida fácil, os artistas que tocam no Studio SP, os salões de beleza onde você vê todo tipo de gente fazendo a unha, as academias vinte e quatro horas, os puteiros, saunas, livrarias, meus amigos e eu no bar Bahia, os atores habitués do Piolim, os playboys, teatros, sinucas ou apenas andarilhos de passagem à Praça Roosevelt. Enfim, de tudo um pouco, um pouco de tudo. É uma delícia passear por lá, é como tomar uma brisa em Copacabana. Alguns puteiros desapareceram, viraram bares de moderninhos e o trânsito continua ruim. Eu fiquei pensando, até quando? Posso estar enganada, muitos devem manjar muito mais desse assunto do que eu, e só me arrisco a dizer (porque estou vendo a coisa de perto) que este parece ser um período de transição, ( bom, claro, todo período é uma transição), enfim, parece que a rua Augusta vai voltar a ser um endereço exclusivamente frequentado por uma classe social abastada. Será? ou será que é justamente por causa dessa "diversidade", dessa fauna excêntrica misturada que ela vem chamando a atenção daquelas pessoas que até poucos anos tinham medo de ir ao centro depois que o sol se pusesse. E se isso acontecer, quem vive e trabalha por lá, vai para onde? A longo prazo, é possível a convivência desses universos tão diferentes? Quando eu era pequena e passava as férias na fazenda, ouvi uma vez algum tio dizer para o outro que não era bom arrendar a fazenda para plantação de cana. Eu perguntei por que e ele me explicou que a cana é um tipo de plantação que suga tudo da terra até não sobrar mais nada, até a terra falir, e que depois, são necessários muitos anos para ela voltar a ser produtiva. É um pouco essa imagem que eu tenho da gente no mundo, a gente vai tomando conta de um lugar, uma área, vai sugando tudo que tem de bom alí até esgotar. Daí a gente procura um lugar novo. Mas acho que sempre foi assim, não? Desde os tempos de nossos ancestrais nômades. A diferença é que no campo, depois da colheita vem a queimada, que deixa tudo com cara de nada e na cidade vem o que a gente chama de decadência, depois a xêpa.

7 comentários:

  1. Como um bicho de estimação crescendo, ótima metáfora. Do que li no seu blog, este, até agora, é o meu post perferido. Eu gosto do jeito que você escreve. Realmente, a Vila Madalena já não é mais a mesma há muito tempo. Acho que o que acontece com a Augusta agora é momentâneo. Em cinco ou dez anos essas casas noturnas, bares e todo essa movimentação terão passado. Como também não acho que a Roosevelt manterá essa revitalização. Daqui há algum tempo toda essa área voltará a pertencer apenas aos seus habitantes de sempre. Para mim é só um modismo que vai passar. E a classe social abastada vai continuar longe do Baixo Augusta do século XXI.

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  2. Eu sou o anônimo, apenas mais um rosto na multidão, só que ser anônimo não é ser ninguém, as rosas florescem no anonimato, sem serem notadas, mas um dia você passa, olha e diz: que bonita rosa. Eu já tinha visto uma montagem de Brutal no Teatro Centro da Terra, agora quero ver como ficou a montagem do próprio autor e ainda com o atrativo máximo de sua presença encantadora e de suas sobrancelhas sensuais. Gata, por que você ainda está solteira?

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  3. Guria, fiquei sabendo que tu perguntou quem era o Fabiano!!!
    Já aviso, não sou o anônimo!!!!rsrsrs

    Bjão imenso, mais uma vez, parabens, otimo texto!!!

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  4. eh vero, e me deu ate uma saudadinha da cidade! acho que passarei um tempinho por la quando voltar, se voltar... adorei tua lista acima tambem! e quanto a xepa, sempre tens uns que vivem dela, nao? um beijo
    thi

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