segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Já não neva mais.
A temperatura caiu e o gelo endurece quase como se calcificasse, o que deixa as ruas mais lisas que pistas de patinação no gelo, com o detalhe que você está sem os patins. Vimos no jornal outro dia "Muitas pessoas com costelas quebradas chegam aos hospitais de Berlim". Eu mesma levei um tombo feio ontem, correndo para pegar o ônibus das 15:07 minutos. Rasguei a calça nova, esfolei a pele e ganhei um galo nos joelhos.
O frio é uma coisa acumulativa, você sai de casa encapotado e pensa "Ah, não está tão frio...". Cinco minutos se passam e o frio atravessa seu casaco sem pedir licença, e este é o momento que você pensa "Nossa, na verdade está meio frio...". Mais dez minutos e o frio alcança seus músculos e você chega a conclusão de que realmente deveria ter posto aquela meia-calça extra. No fim de meia hora o frio já alcançou seus ossos, você não sente as extremidades, maldiz o momento em que resolveu sair do seu país e só te resta procurar abrigo.
Além de levar um tombo fiz algumas coisas interessantes estes dias. Vi a exposição de um desenhista muito bom chamado Walton Ford, essa imagem aí de cima é dele, tudo em telas gigantes. Também fui à Filarmônica e vi um concerto clássico lindo, no meio uma performance moderna do Ligeti, o mesmo cara que compôs a música do 2001. Paguei 10 euros e sentei no melhor lugar da casa. Sorte de principiante. Já comi no indiano, no turco, no árabe, tailandês, chinês, alemão, italiano e cozinhei um arroz com peixe só com alho e cebola em casa, numa tentativa de fugir deste tempero todo.O pão aqui é de primeiríssima qualidade e outro dia ouvi um brasileiro dizendo que um dos motivos dele morar aqui era por causa do pão. Teve também as baladas, as pesadas e as leves. Caí num lugar onde as pessoas entram sexta à noite e saem domingo fim de tarde, Panorama. Depois de alguns drinks venenosos de vodka com melância fui levada à força para casa, coisa que detestei na hora mas agradeci muito no dia seguinte. Conheci o mercado de pulgas, os brechós, especialmente um que vende roupa a quilo chamado Garage, as galerias de arte da LinienStrasser e a catedral. Passei por muitas ruas que não sei pronunciar o nome, entrei em muitos cafés, cinemas e mercadinhos de esquina. Também devo confessar, já fui algumas vezes na H&M, garimpar peças de fim de liquidação, o que para mim é fácil, porque ao contrário do Brasil onde as lojas só tem P e M, e o G mais parece um P, as mulheres aqui são grandes, por isso não faltam tamanhos reais nas araras.
É uma cidade moderna, jovem. Se toda a cidade estivesse pixada, não seria algo muito berrante. Exceto na Filarmônica, eu quase não vejo gente mais velha por aqui, parece que todo mundo tem dezessete ou trinta e quatro anos de idade. Talvez seja por issso que eu não tenha gostado de Berlim à primeira vista, ou talvez porque os alemães podem ser bem grossos de vez em quando.
Mas depois de um tempo Berlim parece mais acolhedora e eu já tenho vontade de esticar a viagem. Especialmente porque agora, depois de dias de martírio e pé gelado, encontrei a bota perfeita: é bonita, não escorrega tanto, não aperta, relativamente impermeável, é comprida e deixa o pé aquecido. Se você está lendo este texto num país tropical, estas informações podem não parecer relevantes, mas para mim, foi quase uma guerra encontrar estas botas. As lojas de sapato não estavam preparadas para o frio que fez algumas semanas atrás e o estoque esgotou em poucos dias, em quase todos os lugares. Entrei em quase todas as lojas de sapato da cidade, e depois disso, posso dizer com convicção que meu namorado é o homem mais paciente do mundo. Pelo menos no inverno.
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