segunda-feira, 15 de março de 2010

cobaia

Quando você é filha de médico, e este médico tem algumas tendências revolucionárias, inevitavelmente você acaba sendo um pouquinho diferente dos outros na hora de se tratar. Eu era uma garota comum, tirando o fato de não ter tomado a maior parte das vacinas que as crianças tomavam, de ingerir uma colher gigante de óleo de fígado de bacalhau por dia e de ter curado a maior parte das minhas febres com suco de pimentão, para horror das professoras, que não entendiam por que simplesmente não me davam uma dose de antibiótico.

Hoje em dia meu pai é bem menos radical, mas continua bem revolucionário. Mistura tratamentos alternativos com pesquisas em laboratório e eu tomo antibióticos e anti-inflamatórios quando preciso, mas continuo tomando minhas bandeja matinal de fitoterápicos. A última vez que terminei um namoro, digo, que terminamos o namoro, bom, na verdade , que terminaram comigo, eu liguei para o meu pai na mesma hora e disse com toda a tranquilidade: "Pai, tô na maior fossa, vou tomar um remédio para dormir, não importa o quanto você seja contra, mas quero saber qual é menos pior: o dormonid, rivotril ou o frontal?"

No que ele me respondeu rapidamente: "Todos são piores, você vai acordar mais deprimida do que está agora."
"Então vou encher a cara de vinho..."
retruquei.

"Martha, vem para cá agora!"


E eu fui, correndo, e ele me deu tanta homeopatia, fitoterapia e outras calmarias, que desabei na cama sem nem lembrar do nome do extinto namorado. Estou contando tudo isso por causa da minha atual infecção do dente. Meu dentista, amigo de faculdade do meu pai, disse que só ia fazer a cirurgia depois que meu pai tratasse com medicação. E após uma semana de muitas injeções, cápsulas, soro e paciência, voltei no consultório. O dentista olhou a chapa do raio-x sorrindo, "É bruxaria mesmo, sumiu tudo, acho que não vamos ter que abrir." Quase explodi de alegria, tenho pavor daquela anestesia na gengiva, daquele bocão pós-cirúrgico. Mas contiuo me tratando, sem poder tomar nem uma cerveja para ajudar a baixar a temperatura do corpo, nesses dias tão quentes que chegam a ser tolos. Mas tudo bem, como diz a avó de alguém, "Saúde e Paz, o resto a gente corre atrás." O que me faz lembrar do meu amigo Marcelo, que um dia soltou este ditadinho popular na sala da casa da namorada uruguaia. Acontece que correr, em espanhol, significa foder, literalmente, e a cara da família da moça, vocês podem imaginar.

Daqui do meu apartamento encalorado e cheio de vitaminas, desejo boa semana para todos, apesar de todas as tritezas que andam diluídas no ar da cidade. Saúde e paz e uma boa corrida atrás do que falta.

6 comentários:

  1. "A última vez que terminei um namoro, digo, que terminamos o namoro, bom, na verdade , que terminaram comigo" rs ótimo
    na medida do possível, boa semana pra vc tb! bjs

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  2. Marthinha, tu é foda. Um fodão, eu diria, mesmo correndo o risco de ser mal interpretada por quem ler essas maltraçadas linhas. Adoro o jeito que você escreve.
    Beijo gigante.

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  3. este post explica muita coisa, Martha Patalógica!
    (Marcio Americo)

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  4. Que bom que não vai ter que abrir Marthinha! Também odeio essa anestesia na gengiva. pior que cloreto de calcio na lingua!
    Esse é o nosso bruxo!
    bjos Blim

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