segunda-feira, 27 de julho de 2009

MINHA GERAÇÃO

Minha geração sofre por amor. Minha geração senta na mesa do bar e fala mal do amor. Minha geração diz que o outro tem medo de amar, reclama porque o outro não se entrega e foge do vínculo amoroso. Minha geração não conhece o que é intimidade, e se tem a oportunidade de conhecer, sai correndo na primeira deixa dizendo solenemente: “Mas também, não era para ser...”. Minha geração é estudada, conectada, informada, não dá ponto sem nó, nem se enrosca a toa. Ela se orgulha das vitórias individuais e da luta contra a osmose amorosa. Minha geração é tão independente e emancipada, que descarta qualquer possibilidade de atrasar um minuto de sua vida por conta do outro. Mas a minha geração é o que tenho e o lugar que tento honesta e arduamente fazer parte, porque afinal, eu também pertenço à minha geração e assim não poderia deixar de ser. Sim, eu pertenço à minha geração, embora cometa gafes dantescas que pessoas da minha geração não costumam cometer. Mas a minha geração me dá um desconto, porque também a exceção, faz o charme da regra. Faz parte da minha geração falar mal de si mesma e incitar um saudosismo falso, inútil, mas muito útil como consolo. Nós que dissecamos a nós mesmos e nossas próprias formas de nos relacionarmos. Nós que como eu, falamos mal de nossa geração, por pura inveja dos que em nossa geração, sobrevivem harmoniosamente. Nossa geração sofre por amor, vinte e nove vezes ao ano, mas nossa geração não costuma amar, porque os terrenos onde semeamos, estão praticamente estéreis. É, minha geração sofre mais por amor, do que ama de fato. Ela insiste nessa ideia inventada por alguma outra geração muito anterior a ela ou talvez por Deus, vai saber. E eu tenho orgulho de que ela seja assim, porque minha geração sofre por algo que mal conhece e ainda assim, insiste em tentar conhecer.



http://snoreandguzzle.com/?p=53
( e este é um link, que vai dar num lugar, onde pode-se ouvir "India Song", música que dá nome ao filme de Marguerite Duras que assisti semana passada. Um filme belo, chato e entorpecente. Em dado momento o personagem diz: "Quando ouço esta música, tenho vontade de amar". A mim também deu vontade,veja aí se te inspira ...)

14 comentários:

  1. Parabéns bella!!!!
    Gosto da forma como desenha as palavras.
    Beijo.
    Mauro Medeiros

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  2. MARAVILHA DE TEXTO! SOU DE OUTRA GERAÇÃO (JURASSICA, COM MUITO ORGULHO) E PELA PRIMEIRA VEZ PUDE "COMPREENDER", DE UMA FORMA NÃO SIMPLISTA, O PERFIL EMOCIONAL DA SUA GERAÇÃO. PARABENS PELA INTENSIDADE!

    MARIA VILLA GARCIA

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. ME ALIMENTO DE CADA PALAVRA DE SEU TEXTO ...
    É SEMPRE UM PRAZER VIM AQUI TE VER ....

    BEIJOS MINHA LINDINHA .....

    ISRAEL JUNNIOR

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  5. "O terreno onde semeamos estão praticamente estéreis". De quem é? Teu mesmo? Martha e aquele negócio de interpretar (ator) só na técnica. Fala mais daquilo per fovore. bj.

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  6. Marthaaaaaaaaaa,

    Adorei, não tinha visto o blog ainda, você escreve divinamente.
    Você encontrou um caminho ótimo para amar ainda mais a vida.
    Eu acredito no amor como forma de expressão de tudo aquilo que esta dentro de nos, por isso tão complexo e as vezes ate incompreensivel. As suas palavras são para mim manifestações de amor.

    Com carinho,

    Florinha

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  7. Maria, obrigada! fico feliz em poder "esclarecer", um pouco que seja.beijo

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  8. olá, acho que nos conhecemos de vista.
    lindo o texto. é um pouco arrsador me reconhecer nesta geração. existe a disponibilidade para amar, mas é falsa. menos física. mais egoísta etérea...
    beijos,

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  9. a gente se conhece da onde? obrigada pela visita e pelo comentário...bjs

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  10. Rodrigo Saffuan Cerqueira

    Oi! Acabo de conhecer o seu blog e fiquei de cara com esse seu texto - repassei pra uma porrada de gente - nunca li nada tão preciso, e olha que, como outros, não sou da sua geração - mas acho que estamos no mesmo "barco bêbado" de Rimbaud há um bom tempo - que esses comentários acima sirvam de estímulo pra você contiuar refletindo sobre esses assuntos... tantas idiossincrassias, mas tão iguais - assim como as nossas tão diferentes e iguais gerações - um beijo!!!

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  11. Rodrigo! vc não parece ser de tão outra geração assim...bjs

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  12. amiga,
    arrasou no texto!!! orgulho...
    beijo
    manu

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